Sendo a Câmara um dos maiores empregadores do concelho e sendo também o organismo que mais dinheiro põe a circular ao contratar serviços às empresas, comerciantes e colectividades, assusta ouvir dizer que a tesouraria está em ruptura financeira.
Era preciso explicar melhor.
Quando se diz aos munícipes que a dívida da Câmara é de muitos milhões de euros, há uma despreo-cupação, natural, da maior parte das pessoas. Valores muito grandes não dizem nada ao comum mortal, sobretudo quando este não é contabilista, economista ou revisor oficial de contas.
No entanto, se esses números astronómicos forem divididos pelos dias do ano, chegamos a valores mais reais para a generalidade das pessoas. Em Alcobaça, os valores da dívida imediata da autarquia dão uma soma considerável: mais de 32 mil euros por dia.
Nas autarquias, as contas obedecem a regras muito específicas. Nas câmaras, tudo tem de estar cabi-mentado, desde uma simples impressora, a uma viatura, passando pelo papel, canetas e demais mate-rial de uso diário. Se for necessário comprar, tem de haver dinheiro para o pagar, mesmo que o pagamento não seja feito no imediato. E nunca é.
Há, na Câmara de Alcobaça, uma aflição, sobretudo do seu presidente, quanto aos gastos. Por isso, é hoje discutido e votado um empréstimo de dois milhões de euros, que é justificado com a necessidade de pagar a fornecedores, que há muito aguardam o seu dinheiro.
Na verdade, Paulo Inácio assustou-se com os números assim que se debruçou sobre as contas municipais. Também é verdade que o presidente da Câmara herdou uma situação difícil. Não é menos verdadeiro que o seu antecessor foi seu mandatário, é seu amigo e companheiro de partido. É igualmente verdade que dois dos vereadores de Gonçalves Sapinho transitaram para o executivo de Paulo Inácio. E nunca é demais lembrar que o actual chefe do executivo foi, no mandato anterior, presidente da Assembleia Municipal, órgão ao qual compete a fiscalização do trabalho e das contas da Câmara.
Parece, por isso, exagerado e até descabido que o presidente da autarquia diga, dois meses depois de tomar posse, que a tesouraria está em ruptura financeira.
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