sábado, 23 de outubro de 2010

ESCOLAS DAS CALDAS DA RAINHA NOS PRIMEIROS LUGARES DO DISTRITO DE LEIRIA

Tendo em conta que os rankings variam de jornal para jornal, com variáveis que passam pelo número de exames realizados, pela generalidade das provas ou apenas pelas provas mais concorridas, entre muitos outros, Gazeta das Caldas analisa este ano as tabelas de quatro jornais nacionais: Público, Expresso, Diário de Notícias e Jornal de Notícias.
Mais uma vez, a Escola Secundária de Raul Proença está em destaque nos rankings escolares da maior parte dos jornais nacionais, sendo a escola mais bem classificada no distrito de Leiria. Os bons resultados voltam a ser partilhados com o Colégio Rainha D. Leonor, que numa das tabelas ocupa o primeiro lugar. Destaque ainda para a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, que no ranking do Expresso sobe 166 posições relativamente ao ano passado.

As direcções das duas escolas com melhores classificações mostram-se naturalmente satisfeitas com os resultados. José Pimpão, director da Raul Proença, que desde 2001 escolhe o Público como jornal de referência para analisar os rankings, congratula-se com o primeiro lugar do distrito, posição que a escola ocupa já há cinco anos. Mas salienta que os bons resultados da escola se devem ao mérito dos alunos e empenho de professores, e não deixa esquecer que na sua escola se realizam mais de 500 exames. “Se fizermos um ranking com as escolas do país com um número de exames nesta ordem, ficamos entre as 15 melhores”, sublinha.

Para o director, é importante ter consciência de que os rankings “não revelam toda a problemática que existe numa escola”, sobretudo no que diz respeito às escolas da rede pública. Além disso, “em escolas pequenas, com menos exames, e sobretudo nas privadas, começam já a ser usados truques para obter melhores classificações nos rankings”, aponta o professor. E dá exemplos: como os rankings se baseiam nos exames da primeira fase, algumas escolas estão a levar apenas os melhores alunos a esta primeira fase de provas. “E se há algum aluno que não é tão bom, liga-se para os pais a dizer que ele ainda não está preparado e que é melhor ir apenas à segunda fase”, afiança.

Por isso, José Pimpão recusa-se a encarar os rankings das escolas como espelhos fiéis da qualidade dos estabelecimentos de ensino. “Para as escolas públicas, que não precisam deste tipo de publicidade, o importante é podermos comparar os nossos resultados com escolas semelhantes às nossas”, acreditando que só assim faz sentido olhar para as tabelas.
Já a direcção do Colégio Rainha D. Leonor diz que “independentemente dos resultados, sentimo-nos satisfeitos por todo o trabalho efectuado na escola, pela credibilidade do mesmo e pelo sucesso que permite aos nossos alunos”. Considerando que a maior parte dos jornais deixa o colégio “fracamente reconhecido” no que diz respeito ao ensino secundário (uma vez que só três jornais colocam a escola no topo do distrito), a direcção salienta ainda a segunda melhor posição nos resultados do ensino básico, “tendo subido face ao ano anterior”.
É precisamente nos rankings do ensino básico que a D. João II surge em destaque, no primeiro lugar a nível concelhio e no quinto a nível distrital e na 131ª posição a nível nacional, de um universo de 1.295 escolas (dados do Público, que é o único jornal a diferenciar os dados do ensino básico).
O director da escola, Jorge Graça, diz que “os resultados obtidos devem-se ao bom desempenho dos alunos, ao empenho, dedicação e estabilidade do corpo docente”, aspectos aos quais se juntam “o papel relevante prestado pelo pessoal não docente e o acompanhamento dos pais e encarregados de educação”.

O ranking do Público
O Público foi, em 2001, o primeiro jornal a tratar a informação que o Ministério da Educação faz chegar em bruto às redacções dos órgãos de comunicação social nacionais. É por isso uma referência quando se fala de rankings, e é-o para a maioria da comunicação social regional e das escolas.
À semelhança do que tem feito noutros anos, o Público divide a classificação das escolas nacionais em várias tabelas e em vários rankings, que têm em conta variáveis como o nível de ensino, se a escola é privada ou pública e o número de exames.
No que diz respeito ao Ensino Secundário, o Público separa as escolas públicas das privadas e divide-as em três listas distintas. Baseamo-nos no ranking geral, que tem em conta a média das oito disciplinas mais concorridas.
No ensino público a Raul Proença é a primeira do distrito de Leiria, alcançando a 18ª posição, com uma média de 12,14 em 555 provas. Já a Bordalo Pinheiro surge no 350º lugar, com uma média de 9,71 em 140 exames.
Na região, a alcobacense D. Pedro I está no 53º lugar, seguindo-se a Secundária de Peniche na 70ª posição, a Josefa de Óbidos no lugar 205, a D. Inês de Castro de Alcobaça na 208ª posição, a Seundária do Bombarral no lugar 369 e a Escola Básica e Secundária de S. Martinho do Porto no n.º 381.
Já no ensino privado, o Colégio Rainha D. Leonor é também a melhor do distrito, no 46º lugar (média de 11,95 em 269 provas). Segue-se o Externato Cooperativo da Benedita no 54º lugar e o Externato D. Fuas Roupinho, na Nazaré, na posição 83.
No que se refere às 1.295 escolas básicas do país, a ordenação dos estabelecimentos de ensino é feita por distrito e concelho. Para esta análise, baseamo-nos no ranking que não tem em conta o número de provas em cada escola.
Assim, nas Caldas da Rainha temos a EB2,3 D. João II, no 131º lugar, com uma média de 3,31 em 192 provas. Segue-se o Colégio Rainha D. Leonor, no 203º lugar e com uma média de 3,18 em 251 provas. No lugar 222, com uma média de 3,15 em 164 provas, está a Raul Proença. A posição 252 cabe ao Colégio Frei Cristóvão (média de 3,11 em 81 provas). A tabela prossegue com a EBI de Santa Catarina, no lugar 411 (média de 2,96 em 124 exames). A EB de Santo Onofre está na posição 534, com uma média de 2,88 em 114 provas. Por fim, a Escola Rafael Bordalo Pinheiro, na posição 1.260, com um total de 38 provas e uma média de 2,18.

O ranking do Expresso

Na tabela do Expresso que se debruça sobre os resultados do Ensino Secundário, entram apenas as escolas onde se realizaram mais de 100 provas. Mas aqui é indiferente se a escola é pública ou privada.
Mais uma vez, a melhor posição (43º) é a da Raul Proença, com uma média de 12,13 em 694 exames. Segue-se, quatro lugares abaixo (posição 47), o Colégio Rainha D. Leonor, com 12,08 valores de média em 287 provas. A outra escola caldense na tabela é a Rafael Bordalo Pinheiro, no lugar 232 (média de 10,65 em 186 provas).
No mapa da região, destaque ainda para o Externato Cooperativo da Benedita (lugar 82), a Secundária de Peniche (lugar 93), a alcobacense D. Inês de Castro (218), o Externato D. Fuas Roupinho (255) e a Secundária do Bombarral (341).
No ranking do Ensino Básico do Expresso são considerados apenas os exames de Português e Matemática e aparecem apenas as dez melhores de cada distrito. Assim, no distrito de Leiria, surge a caldense D. João II na posição 4 (média de 3,39 em 178 provas), o Colégio Rainha D. Leonor (média de 3,23 em 243 provas) e a Frei Estêvão Martins de Alcobaça (média de 3,17 em 255 provas).

O ranking do Diário de Notícias

O Diário de Notícias usa como critério de ordenação das escolas as médias alcançadas pelos alunos nos 18 exames nacionais com mais provas realizadas. Nesta tabela não há indicação do número de exames realizados em cada estabelecimento.
Da amostra que analisamos este ano, DN é o único jornal onde o Colégio rainha D. Leonor surge acima da Raul Proença, sendo que ambas as escolas caldenses ocupam os lugares cimeiros no que se refere ao distrito de Leiria. O colégio surge na posição 49, com uma média de classificação nos exames de 12,05, sendo que a Raul Proença está no lugar 52, com uma média de 12,00. A Bordalo Pinheiro integra também esta lista, no lugar 315 e com uma média de 10,21.
Olhando para a região, o Externato Cooperativo da Benedita surge no lugar 97, a Secundária de Peniche no n.º 131, a D. Inês de Castro na posição 257, a Josefa de Óbidos no n.º 283, o Externato D. Fuas Roupinho na posição 321, a Secundária do Bombarral no lugar 399 e a EB com Secundário de S. Martinho do Porto na 469ª posição.

O ranking do Jornal de Notícias

O último ranking que analisamos é o do Jornal de Notícias, que tem por base os resultados a nota das oito disciplinas com o maior número de exames realizados, independentemente do número de provas.
A primeira escola caldense a aparecer é outra vez a Raul Proença, na posição 57 e com uma média de 12,14. Segue-se o Colégio Rainha D. Leonor no lugar 71 (média de 11,95) e a Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, na 451ª posição (média de 9,71).
Quanto às outras escolas da região, o Externato Cooperativo da Benedita volta a ser uma das melhores classificadas (lugar 106, média de 11,52), seguindo-se a D. Pedro I em Alcobaça (lugar 109, média de 11,49), a Secundária de Peniche (lugar 133, média de 11,28), o Externato D. Fuas Roupinho (lugar 275, média de 10,59), a Josefa de Óbidos (lugar 292, média de 10,51), a D. Inês de Castro (lugar 296, média de 10,51), a Secundária do Bombarral (lugar 474, média de 9,51) e a EB com Secundária de S. Martinho do Porto (lugar 486, média de 9,43).

Joana Fialho

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

UM MAR DE OPORTUNIDADES PARA EXPLORAR EM SÃO MARTINHO DO PORTO


No Dia do Mar defendeu-se que S. Martinho deve ter como público alvo os velhos ricos do Norte da Europa “porque velhos e novos pobres já nós temos em Portugal”


Do turismo aos desportos náuticos, da saúde e bem-estar pela água à gastronomia. Há um mar de oportunidades no mar de São Martinho. E para que o futuro da vila balnear seja próspero, é preciso que entidades públicas e privadas olhem com outros olhos para a baía.

A ideia não é nova, mas ganha agora um novo alento, quando tanto se discute se Portugal deve ou não voltar a virar-se para o Atlântico em busca de um futuro mais risonho que aquele que parece vislumbrar-se se continuar de costas para o mar, virado para a Europa. E na Concha Azul as sementes de um debate que promete juntar autarquia, associações, agentes económicos, população e forças políticas foram recentemente lançadas, no âmbito das Comemorações do Dia Mundial do Mar.

Nesse dia largas dezenas de pessoas compunham a plateia do salão do quartel dos bombeiros locais. Já pela mesa foram desfilando representantes de organismos com competência no domínio marítimo e no turismo, políticos e o ‘guru’ do ‘hypercluster do mar’, o economista Ernâni Lopes.

Ministro das Finanças entre 1983 e 1985, Ernâni Lopes diz que “no século XXI o maior factor estratégico será provavelmente os oceanos. Estamos a viver o início do que será uma relação mais estreita entre o homem e o mar”. Na sua visão, o mar é um “hypercluster” – “um conjunto de novas e velhas possibilidades”, um grande cluster que integra vários clusters, da náutica de recreio e turismo, passando pelos transportes marítimos, pela construção naval, pela pesca, aquacultura e indústria de pescado, pela produção energética, pelos serviços marítimos. E o economista defende que “é preciso uma abordagem holística: ou se resolve tudo, ou não se está a resolver nada”.

Ernâni Lopes conhece bem São Martinho do Porto e sabe que a ligação da vila ao mar é fundamental. “São Martinho foi durante muitos anos um local de férias, de embarcadiços e de alguma pesca”, mas a realidade actual é bem diferente. Com as acessibilidades rodoviárias que agora existem, a vila deixou de estar longe dos grandes centros urbanos, sobretudo de Lisboa. E o aumento da construção civil levou a “uma mudança inimaginável” nos últimos dez anos, com muita gente a adquirir ali a sua segunda residência. E aqui, um dos alvos é claro: “velhos ricos do Norte da Europa, porque velhos e novos pobres já nós temos em Portugal”.

São Martinho do Porto tem, por isso mesmo, que aproveitar as suas mais-valias para vingar, a começar pelo facto da baía ser um fenómeno natural único. “A pesca artesanal é uma chave para o futuro”. E porquê? Porque o peixe que ali se come “não é peixe, é uma iguaria” que não se encontra em muitos lados e cujo valor acrescentado deve ser salvaguardado. “Por amor de Deus, não a deixem proletarizar. Deixem os pescadores ganharem dinheiro e eles que vendam o peixe mais caro porque o consumidor vai pagar”, apelou.

Segue-se a articulação entre o mar e o turismo. “São Martinho tem que estar, e não está, ligado a Alcobaça, Nazaré, Óbidos, Aljubarrota (campos de São Jorge), Batalha, Fátima, Ourém. Isto nunca aconteceu porque cada um olha para o seu mini-umbigo. Talvez não acontecesse se olhassem para a sua micro-geoestratégia”.

O futuro, acredita o economista, passa ainda pela valorização da náutica de recreio e do turismo. E para que os atractivos sejam mais que as águas da Concha Azul e o areal, há que investir no ensino de vela, de remo, apostar na natação nas escolas. Para que se alcance o sucesso, “tem que haver congregação dos vários parceiros em jogo”. É que “entre o bidé das marquesas e a praia das tias, as condições estão cá”. E isto ganha uma importância crescida numa altura em que “estamos a jogar o futuro de Portugal no mar”.
É preciso ter mais que mar para oferecer
O que pode ser feito em São Martinho é algo que ainda dará azo a muita discussão. Mas todos os intervenientes de um longo dia de debate foram unânimes: é preciso ter mais que mar para oferecer.

Assunção Cristas, deputada eleita pelo CDS-PP à Assembleia da República, deu o exemplo: se tivesse um amigo estrangeiro que viesse passar uma semana consigo a São Martinho, o que havia para o entreter além da praia? O que se pretende não é que ele passe um ou dois dias deitado ao sol e que depois vá para Lisboa ou para o Algarve. O ideal seria que ele fosse, quanto muito, uma ou duas manhãs conhecer algumas atracções no Oeste, mas que depois voltasse para São Martinho, atraído por diversas actividades. Uma situação ideal, que está longe da realidade actual.

Acreditando que “o mar deve ser um desígnio nacional”, a deputada centrista defendeu que a relação com o mar “foi o que justificou a nossa independência, garante da nossa História e é aquilo que nos pode projectar para o futuro”. Mas para que isso aconteça, é preciso que os portugueses estabeleçam uma nova relação com o oceano, que vá além do quanto sabe bem estender-se ao sol nos dias de Verão. “O desafio é tirar as pessoas da praia e levá-las para o mar. Isto passa também pela educação e formação para o mar”.

Já o colega social-democrata, Paulo Santos, apontou que o potencial náutico de São Martinho não pode ser esquecido quando se pensa no futuro. E para que este se afirme como um destino turístico de referência “devemos reclamar para a região equipamentos de referência”. O deputado do PSD acredita que “São Martinho tem todas as condições para acolher um projecto-âncora nesta matéria”, um investimento que não deve depender, pelo menos não exclusivamente, de financiamento público.

A possibilidade da vila vir a ter uma marina foi por diversas vezes levantada. Mas há um projecto aprovado para a Nazaré e em Peniche fazem-se planos para requalificar a existente. E em tão poucos quilómetros de costa “há espaço para tanta marina?”, questionou Jorge Gonçalves, em representação dos deputados socialistas eleitos à Assembleia da República pelo distrito de Leiria.

Para o socialista, o futuro faz-se, também, pela defesa das estruturas existentes, como o porto de recreio. E se é certo que “o mar vai continuar a dar importância à região, a questão da sazonalidade é um problema difícil de ultrapassar”. Para que se consiga chegar a bom porto, é preciso levar em linha de conta a actividade piscatória. O deputado conhece bem o “cenário preocupante em que o sector se encontra actualmente na região”, e sabe que em São Martinho não há grande tradição nas pescas. “Mas havendo recursos marinhos cada vez mais escassos, esta poderia também ser uma zona propícia à aquicultura”.

Cientes de que nada pode avançar sem os devidos estudos, os deputados são ainda unânimes num outro ponto: o desenvolvimento aliado ao turismo deve ser sustentável. Neste contexto, a Linha do Oeste e a abertura da base aérea de Monte Real ao tráfego civil são consideradas cruciais por Heitor de Sousa, do Bloco de Esquerda. A linha ferroviária que serve a região é “uma das mais moribundas na rede ferroviária nacional” e “a sua modernização é extremamente fundamental para o desenvolvimento da região”.

Devidamente requalificada, a Linha do Oeste seria a ideal para fazer a articulação com a base aérea. A sua utilização civil viria colmatar a lacuna deixada na região pela deslocalização do novo aeroporto para Alcochete e seria importante para captar os voos low cost, cada vez mais utilizados pelos turistas, até mesmo aqueles que têm maior poder de compra.

As possibilidades são muitas e será preciso muito tempo para as discutir e estudar. “Temos uma absoluta necessidade de potenciar outras vertentes que não as da praia”, apontou o presidente do Turismo do Oeste, António Carneiro. Se durante muito tempo a imagem do país assentou em “sol e praia”, o que hoje se vende lá fora é “sol e mar”, com enfoque nos desportos náuticos, na cultura piscatória, no contacto com a natureza.

A própria estratégia da região de turismo passa pelo mar e pelos seus produtos, aos quais se juntam o golfe e o turismo residencial como principais atractivos. Urge romper com os erros do passado e lavrar novos caminhos. É que “ao longo do século XX a imagem da região esteve muito centrada nas estâncias balneares convencionais”, apontou António Carneiro.



Joana Fialho

jfialho@gazetacaldas.com