segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Políticos viajaram entre Leiria e S. Martinho


A maioria dos autarcas cujos municípios vão ser afectados pelo encerramento do transporte de passageiros na linha do Oeste entre Caldas da Rainha e Figueira da Foz mantém-se firme na defesa da continuidade de um serviço que diz ser essencial na região. Mas há quem considere que esta medida é “perfeitamente racional” nos tempos de austeridade que correm.A convite do Região de Leiria algumas personalidades políticas viajaram na Linha do Oeste entre Leiria e São Martinho do Porto. Gazeta das Caldas aproveitou a boleia e foi saber o que pensam.
Já na passada semana o presidente da autarquia leiriense, Raul Castro (PS), se tinha manifestado contra a medida. Agora, e depois de ter viajado na linha do Oeste pela primeira vez, o edil reafirma que “justificar-se-ia fazer a requalificação da linha porque isso ia trazer seguramente mais clientes e os resultados da exploração seriam outros. Sem isso acontecer, é evidente que as pessoas se sentem pouco atraídas a utilizar a linha do Oeste nas suas deslocações”, devido à pouca falta de qualidade no serviço, aos horários e ao tempo que as viagens demoram.Como vantagens desta requalificação, há tanto reclamada, o autarca aponta os benefícios ambientais “pela não utilização da actual rede viária por parte de mais carros” e o aumento da segurança nas estradas, “pois tirando essa pressão da rede viária, melhores condições haverá para quem nela circula, diminuindo a probabilidade de acidentes”.“Há aqui um caso de sinistralidade que devia ter sido ponderado”, defende Raul Castro, acrescentando que devia ser também levado em conta o facto de muita gente utilizar estes comboios diariamente para se deslocar entre a residência e o emprego e até para frequentar escolas.Prometendo manter-se firme na luta pela manutenção e melhoria da linha do Oeste, o presidente da Câmara de Leiria diz que “valerá a pena tomar uma posição conjunta entre todos os autarcas no sentido de tentarmos que possa haver uma ponderação mais aprofundada por parte dos decisores políticos para que a requalificação possa vir a ser uma realidade”.Outro dos participantes nesta viagem foi o histórico socialista Henrique Neto, que há muitos anos defende melhorias na ferrovia que serve a região. Garantindo já ter andado muito na linha do Oeste, na qual nota uma “evidente degradação”, o actual empresário e antigo deputado do PS lembra que quando se candidatou à Assembleia da República em 1995 realizou uma viagem de comboio entre Leiria e Caldas da Rainha precisamente para “chamar à atenção para a necessidade de modernização da Linha do Oeste”. Uma preocupação que hoje, mais que actual, está “agravada”, porque entretanto a linha degradou-se e a querem desactivar.Henrique Neto acredita que esta medida é “o princípio da sua morte, do seu desaparecimento, e isso é um problema grave para a economia e para as pessoas”. Considera, por isso, “essencial que as autarquias se entendam e façam sentir ao governo de que o transporte ferroviário é o futuro, não é o passado”.
“NÃO ESTOU SOZINHO DENTRO DO PSD”
Outro conhecedor da linha do Oeste é António Salvador, vereador da Câmara da Nazaré, que utilizou estes comboios sobretudo nos seus tempos de adolescente. E na passada terça-feira, o que diz ter sentido foi “a degradação de uma linha que já à época era lenta, mas com bons parâmetros de imagem e com um conforto aceitável”.Hoje, a linha do Oeste é, para o social-democrata, “uma espécie de ferro velho da CP” onde se pode encontrar “o refugo do que a empresa tinha noutros sítios onde decidiu apostar”.Manifestando-se “completamente contra” a medida preconizada pelo governo de Passos Coelho, António Salvador diz que sabe que não está sozinho dentro do PSD. Mas admite que “o desejo de investimento na linha do Oeste neste momento não é possível, mas é pelo menos possível manter os comboios que já existem”.Salientando que a linha é muito utilizada por jovens estudantes e por idosos que se deslocam a Coimbra ou a Lisboa para consultas ou exames médicos, o vereador nazareno aponta o preço das viagens de comboio e a segurança para os passageiros como mais-valias de um serviço que tem um importante “papel social a desempenhar”.Quem também recorreu aos comboios da linha do Oeste, enquanto jovem, foi José Vinagre, vereador da Câmara de Alcobaça, que se juntou aos convidados do Região de Leiria na viagem entre São Martinho do Porto e Valado dos Frades. Um meio de transporte “cómodo”, mas que considera que tem que ser dinamizado e divulgado para que as pessoas o vejam como uma alternativa viável.“As pessoas nem se lembram que existe o comboio”, acredita o autarca, acrescentando que “quando o comboio precisava mais das pessoas, estas viraram-lhe as costas”. Considerando que o transporte de passageiros na linha do Oeste é “fundamental para impulsionar o turismo na nossa costa”, José Vinagre lembra ainda que “ao preço a que está o gasóleo, muita gente deixa de poder usar o carro e as auto-estradas”.
Uma medida “perfeitamente racional na actual circunstância”
Já uma posição diferente tem Domingos Carvalho, eleito à Assembleia Municipal de Leiria pelo CDS-PP, mas que se mantém actualmente no cargo como independente. Uma posição que diz não ser contrária, mas sim “realista”.Domingos Carvalho considera que “a linha do Oeste só é viável se houver forte investimento no sentido de a dotar das condições de se tornar competitiva, que permita transportes rápidos, confortáveis e concorrentes com a rodovia”. Mas lembra que a aposta foi feita na rodovia. “Quando a A8 foi construída, mataram a possibilidade da Linha do Oeste ser viabilizada”.Para o deputado municipal leiriense, o que está em causa é unicamente o custo do investimento necessário numa altura em que não há dinheiro. “A não ser que proponham aos portugueses perderem o 12º mês e talvez parte do 11º ou todo o 11º mês, e nós fazemos uma nova linha do Oeste”, diz.O antigo presidente da concelhia leiriense do CDS-PP defende que “estamos perante um governo que não tem condições de estruturar o futuro. O Governo actual tem apenas, porque é o que lhe é permitido, que gerir o presente. E esta medida é perfeitamente racional na actual circunstância”. Não obstante, diz que este momento deve ser aproveitado por todos os autarcas dos municípios atravessados pela ferrovia “para fazer um estudo inequívoco do que é necessário, quanto é que pode custar, como é que deve ser utilizado, para a partir daí se criarem as condições para que no futuro que conseguirmos construir” se voltem a debater soluções.
Joana Fialhojfialho@gazetacaldas.com
Turismo do Oeste quer linha aberta pelo menos até S. Martinho do Porto
É numa curta tomada de posição que o presidente do Turismo do Oeste, António Carneiro, diz que é “crucial, e perfeitamente defensável que, pelo menos, seja o funcionamento real da Linha do Oeste extensível até São Martinho do Porto”.Para sustentar a sua posição, o responsável aponta a “insignificância do acréscimo quilométrico” que o transporte de passageiros até São Martinho do Porto, e não apenas até às Caldas conforme defendido pelo governo. Além disso, António Carneiro salienta que a vila balnear tem a sua estação “dentro do próprio espaço urbano”. Por isso mesmo, muitas pessoas aproveitam o comboio para se deslocarem até à praia durante o Verão.
J.F.

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